21 de mar. de 2010

Filme de Amor

Relendo o mito das três graças: a beleza, o prazer e o amor.

Vencedor de melhor filme (Júlio Bressane), fotografia (Walter Carvalho) e trilha sonora (Guilherme Vaz) no Festival de Cinema de Brasília.



18 de mar. de 2010

Cinema de Rua

* retificado

30 filmes em 30 dias

05 cabeças
03 câmeras
06 pernas
01 blog
imaginação a gosto

Deixe as cabeças em funcionamento. Distribua uniformemente as câmeras ao lado de três cabeças e reserve. Mantenha as duas demais cabeças aquecidas. Agite as pernas em uma cidade, em alta velocidade. Salpique cores e sons. Depois de pronto, despeje em um blog e deixe divagar.
Sirva acompanhado de sensibilidade.

Tempo de preparo: 30 dias
Rendimento: 30 filmes
Custo: 0,00

Onde encontrar: http://cinemaderua.wordpress.com/

11 de nov. de 2009

Serras da Desordem

Serras da Desordem, Brasil, 2006

Existem duas formas de se contar uma história: as lidas e as sentidas. Uma cultura não a outra senão com os olhos do preconceito, para tanto o que Andrea Tonacci faz em "Serras da Desordem" é colocar as emoções em sintonia, um ponto de interseção entre duas culturas, que permite passar de uma a outra, sendo ambas irredutíveis.

O fato inicial é de uma trágica banalidade no Brasil - o massacre de uma tribo indígena por brancos que cobiçam suas terras e o que elas contêm. Quem escapa da matança é o índio Carapiru, que se torna nômade e perambula pela mata do Brasil central, até ser encontrado, 10 anos mais tarde, vivendo com brancos que não falam a sua língua, a 2 mil quilômetros de onde sua família foi dizimada. Uma experiência de estranhamento radical.

A mistura entre o registro documental e ficcional, a utilização dos próprios personagens na reencenação de sua história e as seqüências de montagem e sobreposições de imagens colaboram para uma experiência de imersão nesse registro audiovisual.

Exibido na Mostra Internacional de Cinema (2006), o filme, que reconstitui os fatos e circula por tempos históricos diversos, foi premiado em diversos festivais desde 2006, lançado em 2008 com duas cópias e virou objeto do primeiro livro da Coleção Odeon, uma parceria da Azougue Editorial e Safo Produções Literárias.

14 de out. de 2009

Down by Law

Down By Law, EUA/Alemanha, 1986


Um dos primeiros trabalhos do diretor Jim Jarmush acrescida da interpretação impecável em início de carreira de Roberto Benigni, o filme foi um dos precursores do cinema independente americano que posteriormente afirmou a identidade do gênero.

O filme conta a história de três personagens: um dj fracassado, um cafetão sonhador, e um estrangeiro que não domina a língua inglesa. O que os une é o gosto amargo do fracasso. A sensação de deslocamento é inerente tanto aos personagens, quanto à cidade em que vivem. São figuras que não tem o seu lugar no sonho americano, marcados por um tom cínico, com sabor de ressaca.

A fotografia em preto e branco, inspirada nos filmes de prisão dos anos 40, faz antologia de imagens baratas do mundo do filme noir.

Filhos do Paraíso

Bacheha-Ye aseman, Irã, 1997


Com direção de Majid Majidi, o filme irãniano conta a história de Ali, um garoto de nove anos que perde o sapato recém-consertado da irmã quando ia para a escola. Filhos de pais humildes, decidem não contar o ocorrido e revezam o único par de sapatos restante, enquanto que Ali tenta ganhar o prêmio de terceiro lugar numa maratona, onde o prêmio é um par de sapatos.

Minimalista na pequena história, o filme é de uma riqueza poderosa de imagens, com o domínio da técnica narrativa. As tomadas de sapatos, repetidas, enquanto a menina está na escola, assim como as de campainhas de interfones que o garoto e o seu pai trocam no bairro riquíssimo, onde ele vai em busca de trabalho extra como jardineiro, levam o filme à uma atmosfera de compassos marcantes.

Desse fiapo de história o diretor consegue envolver o espectador com o drama desses dois pequenos personagens, ao mesmo tempo em que desenvolve um panfleto sobre a vida em uma sociedade brutalmente desigual e injusta.

Um filme "esquecido", mesmo após ter concorrido a premios com A Vida é Bela e Central do Brasil.

10 de out. de 2009

O Tempero da Vida

Politiki Kouzina, Grécia, 2003


Escrito e dirigido por Tassos Boulmetis, o filme é uma narrativa repleta de matáforas que gira em torno da vida de Fanis Iakovides. Na infância vivida na Turquia, o protagonista desenvolve uma relação de extrema cumplicidade com seu avô, dono de um mercado de temperos que além de excelente culinário, é filósofo. Com ele aprende que tanto a comida quanto a vida requerem toques de tempero para ganhar sabor.

Neste filme sensorial é possível sentir o ar morno, a poeira na pele, o perfume das especiarias, o sabor dos pratos preparados ao mesmo tempo em que se discute questões étnicas, políticas, familiares, afetivas, separações, silêncios, saudades e reecontros.

Como canela, sal e pimenta: os temperos da vida.

9 de out. de 2009

Kinsey

Kinsey, Alemanha/EUA, 2004


Em meados da década de 40, Dr. Kinsey - um zoólogo e professor centrado na vida dos insetos, motivado por uma adolescência recalcada, descobre seu profundo interesse pelas práticas sexuais do ser humano, acabando por fazer disso o móbil da sua vida pessoal e profissional. E é num contexto de escandalosa repressão que se desenrola a história de um homem encarado como um quase-herói (e igualmente anti-herói).

A polêmica dos estudos de Kinsey cercam ainda a sua metodologia, que em alguns casos envolviam práticas sexuais dos pesquisadores com participantes. Apesar disso, nunca houve um estudo sobre a sexualidade humana que envolvesse tantas pessoas, sendo considerado como um dos maiores estudos mundiais do comportamento sexual humano.

O filme traz Leam Neeson no papel do cientista - um homem sensível e perturbado, mas também afetuoso, cômico, obstinado e lutador, que nunca desiste da sua causa mesmo quando os apoios aos seus projetos são escassos ou inexistentes. A caracterização física do ator está impecável, assim como a de Laura Linney (sua ex-aluna e esposa) que prova a sua versatilidade e impressiona pela profundidade que empresta à personagem.

7 de out. de 2009

A Casa Amarela

La Maison Jaune, França/Argélia, 2008


Em "A Casa Amarela", o cineasta argelino Amor Hakkar capta a beleza de uma família simples que vive em uma aldeia montanhosa cuja felicidade é quebrada devido à morte inesperada de seu filho. Pilotando seu triciclo, o pai sai em busca do corpo do filho e com a ajuda da filha tentará de todas as formas tirar sua esposa da profunda tristeza em que mergulhou.

A atmosfera é caracterizada pela eclética musical que recria o músico argelino Faycal Salhi fazendo uso efetivo de Oud, um instrumento musical que é amplamente utilizado em composições árabes, além da impecável atuação do elenco que confere ainda mais sensibilidade ao filme.

"A Casa Amarela" é um filme com uma razão válida para ser visto, pois nos mostra como utilizar simples recursos emocionais para superar a perda de entes queridos.

Exibido na 31º Mostra Internacional de Cinema, vencedor do Prêmio Ecumênico no Festival de Locarmo e de mehor filme e trilha sonora na Mostra de Valência.

A Erva do Rato

A Erva do Rato, Brasil, 2008


– Que é? perguntou-lhe.
– O rato! O rato! exclamou a moça sufocada e afastando-se.

Tangaracá, erva do rato, planta frutífera dotada de singular faculdade destrutiva e mortal, tanto para homens quanto para ratos.

O diretor Júlio Bressane defende o cinema independente brasileiro com unhas e dentes. Mas, apesar da carreira prolífera, optou por fazer filmes para um público extremamente restrito. "A Erva do Rato", um drama hermético, que provoca a repulsa na plateia com ratos e ossadas humanas baseia-se em dois contos de Machado de Assis: "A Causa Secreta" e "Um Esqueleto".

Os personagens são chamados apenas Ele (Selton Mello) e Ela (Alessandra Negrini). Os dois se encontram num cemitério, onde ela passa mal e desmaia. Logo mais, estão morando juntos. A relação que se estabelece entre eles é estranha. Ela copia os textos que Ele dita, em cadernos que vão se empilhando pelos cantos. Do ditado passam às fotos eróticas. Um rato aparece na casa, roendo as imagens e levando Ele à loucura. Mas o bicho conta com a cumplicidade da mulher.

Uma comédia aguda, daquelas que provocam um riso que não faz o espectador se sentir bem. Pelo contrário.

Eu, Você e Todos Nós

Me and Yoy Everyone We Know, EUA, 2005


Com domínio e expressividade, a diretora, Miranda July - também artista plástica e videomaker - faz de "Eu, Você e Todos Nós" um verdadeiro poema do cotidiano, cujo cerne é o ser humano em sua eterna busca por um interlocutor. Porém, o que está em jogo aqui não é apenas o encontro com o outro, mas todas as implicações decorrentes desse processo; em especial, a dificuldade inerente ao homem de criar e manter relacionamentos. Premiado em várias partes do mundo, o longa-metragem rendeu à cineasta a Câmera de Ouro no Festival de Cannes de 2005, além do reconhecimento anterior no Festival de Sundance.

"Eu, Você e Todos Nós" poderia ser facilmente catalogado como mais uma produção do cinema independente norte-americano que usa (e abusa) de velhas fórmulas em sua narrativa, entre elas o cruzamento de várias histórias, o uso de metáforas visuais, falas inteligentes e o apelo às referências contemporâneas, como a comunicação via internet (somada à precoce educação digital). Entretanto, Miranda transpõe a barreira do óbvio e direciona sua câmera com interesse para cada fragmento de vida, fator que torna ilegítima qualquer tentativa de rotular o filme.

Todos os personagens são retratados de maneira positiva, propositalmente sem apresentar muita densidade dramática; apenas esboços de pessoas simples que convivem com seus conflitos interiores. Uma escolha arriscada por sua superficialidade, mas que, no final das contas, dá certo no conjunto da obra.